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quinta-feira, 21 de julho de 2016

Verão com Seu Fernando



Acabo de descobrir que é legal escrever sobre as pessoas. 


Enfim, seu Fernando é meu vizinho, eu gosto dele porque ele é muito diferente. 
Ele teve problemas em sua vida, parece que foi obrigado a deixar a profissão por questão de dependência química. Bom, atualmente ele fuma e toma sol todas as manhãs embaixo da minha janela (mesmo que a praia fique a 1 km do prédio).

Então ele fica de manhã na área externa do prédio, que é bem grande com muitos moradores, e dá bom dia a todos, dizendo às mulheres "muito bom dia madame", "bom dia princesa" "bom dia princeso" às vezes conta uma piada e faz elogios a toda e qualquer mulher que passe. 

Ele oferece livros ao meu esposo, e leva café para meu vizinho que é médico, outro figura. 
Veste-se de jeito estranho, com as calças lá pela cintura, sem camisa, o corpo está encurvado e flácido, e infelizmente seus dentes se foram,  mas enfim, é o Seu Fernando. 

Com seus cumprimentos e brincadeiras faz o condomínio ser um lugar melhor de se morar. 

Valeu Seu Fernando, mesmo que e apesar dos pesares, você realiza algo de novo todos os dias!

É pena que estejamos no inverno e o sol tenha se escondido, estou sentindo sua falta!

Um dia vou reler este texto e me lembrar dele com alegria!


Dona Graça





Dona Graça é uma senhora muito simpática, tem por volta de 1,54 m de altura, com vaidade apenas essencial.

Elá é simpática, engraçada, e nem sempre consegue ouvir quando queremos falar, tem se esforçado para isso.

Quem a vê de uma primeira vez nem imagina que a boa senhora seja bipolar.

Agora eu sei o porquê: foi de não ter um colinho quentinho da mãe quando foi bebê ( a mãe ficou doida desde o primeiro parto; dizem que a mãe teria sido freira não fosse o casamento, e que quando casou não sabia o que era sexo, e nunca havia beijado na boca!).
Desde pequenina teve que colocar banquinho na pia para lavar louça, usar esfregão, ferro de brasa, acordar para fazer café em fogão a lenha e carregar os irmãos mais novos enquanto desejava ir  para rua brincar. Alguns anos mais tarde a mãe em um novo surto psicótico passava o dia gritando, isso durou meses, longos meses, depois de melhorar ainda assim às 9:30h da matina gritava: "quero almoçar, quero almoçar!".

É realmente muito difícil ter uma mãe psicótica desde criancinha. Imagino quantas vezes Gracinha quis chorar, xingar e esbravejar, mas não adiantaria, porque a mãe não se consertaria. Enfim, acredito que muita tristeza foi engolida desde criança. 

Muita dor suprimida e pouco tempo depois poderia ter desejado toda sorte de vingança ao marido. O referido senhor a traiu com prostituta, como se não bastasse a traição, após a separação juntou os panos com a profissional do sexo e assumiu a paternidade do filho bastardo (pois ele mesmo precisava de tratamento longo e caro para ter filhos). Deste modo largou esposa, casa, filho, esteve ausente por anos e anos, enfim, deu motivo de sobra para instigar o ódio mortal de qualquer mulher.

Mais tarde, depois que a dama se separou dele conquistando carro e pensão, ele voltou para a casa da ex-mulher até se arranjar novamente.

Ela cuidou dele (queixo caído, revolta) por quatro meses, servindo-o em tudo, exceto na cama. 

Equanto ele vivia bons momentos de festa e farra com a segunda mulher, dona Graça, quase santa, sentia-se humilhada, rebaixada a divorciada, (pois era essa a cultura no seu tempo),  mas o jeito era seguir rezando e lutando para criar sozinha o filho, e este não poupou trabalho à senhora divorciada.

Sabe, queria eu brigar por ela, xingar todo mundo e mandar às favas, como fazia sua mãe, (pois não podia dizer merda), e também me prostrar no chão e chorar. Ela não  fez isso e deu no que deu, ficou bipolar, com diabetes, e precisa tomar muitas cápsulas todos os dias para controlar as taxas que vivem subindo e descendo feito montanha russa.

Aguarda que a morte seja breve, sempre diz que está velha, e  que já está perdendo a memória. Penso com sinceridade que ela quer mesmo perder a memória, afinal seria uma forma de suprimir ainda mais as dores do passado que permanecem sempre vivas.

Sinto por ela, a noite quando faço a oração penso nela sozinha em seu quarto, e parece que a casa está com pessoas cinzas. Fico triste.

Se eu pudesse brigar por ela, e chorar por ela, eu faria, afinal ela não faz mais isso, acho que perdeu a fé. Chora apenas pelos entes falecidos, e sorri com a rede globo, às vezes manda a irmã à merda, mas tem lutado contra isso. Passa os dias rezando o terço, pensando que irá ter com a mãe do céu, pois é devota de nossa senhora, a meu ver espera nela a mãe que não teve.

Apenas oro e a abraço, porque o choro é de cada um, bem como a raiva, o calor da mãe e a alegria no olhar, infelizmente é intransferível.




Bebês




São tempos felizes, desempregados mas felizes.Comemos comida caseira todos os dias, temos um cachorro de 10 anos ainda saudável cujas despesas veterinárias são pagas pelos donos originais.


Tenho fé de que as finanças vão melhorar, e assim com fé consigo viver um dia de cada vez, seguindo aquele versículo que diz: a cada dia basta o seu mal. 


E é assim mesmo, estou aprendendo a viver a realidade. Quando me vêm as imaginações de nuvens, estou praticando o voltar ao  chão, que é onde tudo é possível de acontecer. No chão é que se vive.


Posso me emocionar, e ficar com um pouco de raiva, não muita atualmente, pois tenho dormido bem, vejo filmes, séries, e tenho sido psicóloga, trabalhado com liberdade, pouco dinheiro, mas com liberdade, e acima de tudo tenho tido muita fé, tudo isso faz com que eu tenha pouca raiva. Às vezes quero comprar alguma coisa, mas volto para a realidade e me preencho com o que tenho.  


O que me pega agora são os filhos, as crianças, a vida, tão delicada, frágil e dual. Acho que com um pouco de estabilidade, mesmo que com o esposo desempregado há um ano e meio, (ou mais, é sempre difícil de assumir o tempo verdadeiro), e prestes a formalizar meu casamento, ( vamos casar apesar desta dificuldade) eu e ele desejamos agora ter filhos (apesar do mundo que é mal).


Os pais são assim, egoístas posso dizer, porque os filhos passam a ser as nossas alegrias, e as nossas tristezas são aplacadas pois tem-se um motivo para viver: viver e sofrer para eles. Às vezes eu sei, deve cansar e dar vontade de voltar aos dias tranquilos com poucas preocupações, como o dia de hoje.


Mas enfim, posso fazer nascer problemas de minhas entranhas, problemas com amor, sorrisos, mas também muita dor, pois certo é que não há ser humano que passe   no mundo sem doer.  Algumas fases muito em outras menos para algumas vidas. Posso eu fazer isto? Acho que só é justo trazer um ser humano à vida, se realmente nos dedicarmos à felicidade dele, pois se ele está feliz ou triste, foi nossa a decisão de traze-lo à vida.


Mas é assim, queremos o filho para preencher de cores novas a nossa casa, e também para brincar de imaginar, de colorir, para tomar mais sorvete e comer mais batata frita, para isso também queremos filhos, para viver esses prazeres com um novo sorriso, e também chorar novas lágrimas.


É assim.


Mas bom mesmo deve ser o ser avó, pena que nem filhos tenho ainda! Pelo andar da carruagem acho que vou ser obrigada a encoraja-los que tenham filhos ainda bem jovens, caso contrário a mãe pode morrer antes de virar avó!


Mas isso já são nuvens...deixa prá lá!