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quinta-feira, 21 de julho de 2016

Dona Graça





Dona Graça é uma senhora muito simpática, tem por volta de 1,54 m de altura, com vaidade apenas essencial.

Elá é simpática, engraçada, e nem sempre consegue ouvir quando queremos falar, tem se esforçado para isso.

Quem a vê de uma primeira vez nem imagina que a boa senhora seja bipolar.

Agora eu sei o porquê: foi de não ter um colinho quentinho da mãe quando foi bebê ( a mãe ficou doida desde o primeiro parto; dizem que a mãe teria sido freira não fosse o casamento, e que quando casou não sabia o que era sexo, e nunca havia beijado na boca!).
Desde pequenina teve que colocar banquinho na pia para lavar louça, usar esfregão, ferro de brasa, acordar para fazer café em fogão a lenha e carregar os irmãos mais novos enquanto desejava ir  para rua brincar. Alguns anos mais tarde a mãe em um novo surto psicótico passava o dia gritando, isso durou meses, longos meses, depois de melhorar ainda assim às 9:30h da matina gritava: "quero almoçar, quero almoçar!".

É realmente muito difícil ter uma mãe psicótica desde criancinha. Imagino quantas vezes Gracinha quis chorar, xingar e esbravejar, mas não adiantaria, porque a mãe não se consertaria. Enfim, acredito que muita tristeza foi engolida desde criança. 

Muita dor suprimida e pouco tempo depois poderia ter desejado toda sorte de vingança ao marido. O referido senhor a traiu com prostituta, como se não bastasse a traição, após a separação juntou os panos com a profissional do sexo e assumiu a paternidade do filho bastardo (pois ele mesmo precisava de tratamento longo e caro para ter filhos). Deste modo largou esposa, casa, filho, esteve ausente por anos e anos, enfim, deu motivo de sobra para instigar o ódio mortal de qualquer mulher.

Mais tarde, depois que a dama se separou dele conquistando carro e pensão, ele voltou para a casa da ex-mulher até se arranjar novamente.

Ela cuidou dele (queixo caído, revolta) por quatro meses, servindo-o em tudo, exceto na cama. 

Equanto ele vivia bons momentos de festa e farra com a segunda mulher, dona Graça, quase santa, sentia-se humilhada, rebaixada a divorciada, (pois era essa a cultura no seu tempo),  mas o jeito era seguir rezando e lutando para criar sozinha o filho, e este não poupou trabalho à senhora divorciada.

Sabe, queria eu brigar por ela, xingar todo mundo e mandar às favas, como fazia sua mãe, (pois não podia dizer merda), e também me prostrar no chão e chorar. Ela não  fez isso e deu no que deu, ficou bipolar, com diabetes, e precisa tomar muitas cápsulas todos os dias para controlar as taxas que vivem subindo e descendo feito montanha russa.

Aguarda que a morte seja breve, sempre diz que está velha, e  que já está perdendo a memória. Penso com sinceridade que ela quer mesmo perder a memória, afinal seria uma forma de suprimir ainda mais as dores do passado que permanecem sempre vivas.

Sinto por ela, a noite quando faço a oração penso nela sozinha em seu quarto, e parece que a casa está com pessoas cinzas. Fico triste.

Se eu pudesse brigar por ela, e chorar por ela, eu faria, afinal ela não faz mais isso, acho que perdeu a fé. Chora apenas pelos entes falecidos, e sorri com a rede globo, às vezes manda a irmã à merda, mas tem lutado contra isso. Passa os dias rezando o terço, pensando que irá ter com a mãe do céu, pois é devota de nossa senhora, a meu ver espera nela a mãe que não teve.

Apenas oro e a abraço, porque o choro é de cada um, bem como a raiva, o calor da mãe e a alegria no olhar, infelizmente é intransferível.




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